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Dormente que assenta o trilho.
Que dorme... Indiferente!
E no balouçar das máquinas e dos vagões
- estremece. Não mexe. Aceita a sina.
Que paralela ‘trans-passa’ seu dorso
Na ânsia de vê-lo passar. Quem?
Rotineiramente, o trem.
Não necessariamente...
(Prof. Joceny)







quinta-feira, 15 de abril de 2010

UM QUERER AJUDAR: Nietzsche nesse cenário...

(CRÔNICA) UM QUERER ‘AJUDAR’! Nietzsche nesse cenário...
Prof. Joceny Possas Cascaes. joceny@terra.com.br

Li alguns livros da coleção ‘Os Pensadores’ e me apaixonei pelo livro e pelas palavras de Nietzsche (Friedrich). “Assim Falou Zaratustra”, então, é uma obra literária não muito simples, mas, ao mesmo tempo, espetacular. Repleto de sábias metáforas, difíceis de serem entendidas, talvez porque, como diz em seu início, é ‘um livro para todos e para ninguém’. Estou ‘saboreando’, ‘um procurar-saber’ (saber-sabor) da quarta releitura. Mas, no livro ‘O que é nobre?’, ‘Nietzsche’, numa das partes que me chamou mais atenção, fala que “também o homem nobre ajuda o infeliz, mas não, ou quase não, por compaixão, mas mais por um ímpeto gerado pelo excedente de potência” Eis, o além-do-homem...
E eu que, às vezes, penso saber, senti-me intimidado com tamanha sapiência. Quem sabe, seja porque suas palavras colidiram com o interior de uma pessoalidade que necessita de – constantes - reforços. Existia algo que me fazia agir dessa maneira. No entanto, precisava de sabedoria superior para comprová-la. O saber vicia e o não-saber pode secar ou cegar. Tanto faz!!! A escolha, de certa forma, é pessoal! Inexistem rios sem corredeiras?... Porém, vejo que há corredeiras sem rios! Ajudar é um verbo, dos transitivos, forte. Nem todos estão preparados para prestar auxílios. Há fazeres exigentes, tipo aqueles que aguardam retornos.
O ‘sujeito-político-partidário’ faz, porque aguarda o retorno na urna; o ‘sujeito-diretor’ da empresa faz, porque quer vender o seu produto; o ‘sujeito-cidadão’ faz, esperando que possam fazer por ele também; o ‘sujeito-pedinte’ redime-se, para que a compaixão faça acontecer o milagre da oferta... O detalhe deve estar, apenas, no ‘fazer’ - no prestar auxílio quando se achar que algo precisa ser melhorado e de maneira natural, sem imposições e nem tolos desejos de regressos. Eis o dilema! Como agir dessa maneira se a educação impõe regras sociais? Somos mundanos! As aspirações fogem, constantemente, daquilo que corresponde ao ato civilizatório e faz com que se busquem os prazeres materiais. Satisfação pessoal!
O ‘outro’ continuará sendo o ‘outro’ enquanto deixa-se de se colocar no lugar dele. Nada de piedades! Isso é piegas, algo que provém de um sentimentalismo bobo. Mas, ter potência pode significar um ir além ou um retornar; um ultrapassar o limite de um saber que sabe o quanto há em aprender; um ajoelhar-se para não ser humilhado e nem humilhar; um estado de puro desejo pessoal que passa a ser transferido ao outro... Excesso de potência! Ajudar sem requerer nada. Fazer porque deve ser feito – sem dependências recíprocas. Gosto da definição da palavra solidariedade que vincula o indivíduo à vida, aos interesses e às responsabilidades dum grupo social, duma nação ou da própria humanidade.
Frouxos, robustos e transparentes vínculos à pessoalidade, ao social que pertence ao coletivo, ao cultural, às normas que devem ser comuns a todos... Existem várias maneiras de ajudar o ‘outro’. Contudo, ajudar pelo simples fato disso fazer bem a si, porque outra pessoa deixou de fazer ou, meramente, porque precisa ser realizado, pode ser superior. E ser superior é justamente, por estar acima ou, quem sabe, por saber mais, deixar transparecer o lado em que a humildade passa a transcender a própria superioridade. Quem sempre cede, numa possível discussão, não é quem não sabe, e sim quem mais sabe que não sabe.
Nietzsche é um precursor desse ‘não-saber’ consciente. Fala com propriedade! O livro ‘O que é ser nobre?’, também deixa de ser um escrito qualquer porque passa a fazer parte daquilo que é do eterno. Quando fala em ajudar o próximo, simplesmente, pelo ‘ímpeto gerado pelo excesso de potência’, reafirma o que pensa sobre o ‘além-do-homem’. Alguém que, por ser nosso ‘semelhante’, possui o direito de pensar diferente; que, ao amar a si, consegue transferir amor igual ao outro. Um amor que por ser ‘irreconhecível, nunca é total. Mas que, por se ter ciência disso, ama, sem desejos de fúteis e infundados retornos. Porém, leitor! Que essas palavras sirvam de reflexão consciente de um – mero – pensar que busca o ‘intercâmbio’ de ideias, para continuar a entender um ‘não-saber’ que procura ajudar e que quer continuar a ser ajudado, apenas...

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